PROTOCOLO OUROBOROS Pt.II: FALLON

Após o bizarro incidente em Black Marble, a vida de Talena agora se encontra nas mãos da mulher misteriosa. Quais seriam suas verdadeiras intenções? Seria ela um anjo da guarda, ou a própria morte? Descubra agora na reveladora parte dois do Protocolo Ouroboros.

Fallon

“Eu sempre acreditei em monstros. Não naqueles que se escondem no armário, embaixo da cama, não. Naqueles que devoram almas, que apagam cidades do mapa em um piscar de olhos. Hoje, posso dizer que sou esse monstro!”

Ainda chocada e confusa com a situação, Lena chorava de modo descontrolado, esperando qualquer resposta da mulher misteriosa.

— Vem comigo, Lena, não temos muito tempo. — a mulher estendeu sua mão, um olhar acolhedor preenchia seus olhos escuros.

— Como… — Talena soluçava — Como sabe meu nome?! — perguntou, apavorada.

— Não tenho tempo pra explicar! — ela gritou e voltou seu olhar para a direita, onde vários assimiladores se preparavam para um ataque — Quer morrer? Então fica! — gritou.

Ao processar o que de fato acontecia ali, Talena segurou a mão da mulher e as duas começaram a correr. A cidade agora era um verdadeiro show de horrores, pessoas deformadas corriam por todos os lados.

Aquelas coisas gritavam, riam, consumiam, assimilavam, algumas delas possuíam diversas faces, uma mais macabra do que a outra.

Correndo pelo que parecia ser um século, Talena e a mulher chegaram até seu carro, um Chevy Nova preto, estacionado próximo à saída da cidade. Porém, antes mesmo que um suspiro de alívio pudesse ser lançado, uma daquelas criaturas apareceu, mas desta vez, não era qualquer pessoa.

— Mãe?! Mãe, me ajuda! — Talena exclamou, aliviada e apavorada ao mesmo tempo.

— Essa coisa não é sua mãe, se afasta. — a mulher afirmou ao entrar na frente de Talena.

— Você nunca vai nos parar, vadia! — a criatura grunhiu como um animal selvagem e correu na direção das duas.

— Tape os ouvidos, garota. — disse a mulher.

Ao fazer o que foi pedido, tudo o que Talena pôde ouvir foi um estouro abafado, e ao abrir os olhos, testemunhou uma cena grotesca: pedaços de cérebro, dentes e cabelo enfeitavam o asfalto gelado e negro. A repulsa agora preenchia o ser de Talena, que se virou imediatamente para vomitar.

— Tem mais vindo, entra no carro! — ela exclamou, com frieza.

Traumatizada, Talena entrou pela porta traseira e deitou-se nos bancos, sem conseguir processar o que havia acontecido. Aquele cadáver sem cabeça estirado na estrada era sua mãe, ou ao menos, possuía sua forma.

Sem proferir uma palavra, a mulher pisou fundo no acelerador, falando somente depois de algumas horas de viagem.

— Podemos conversar agora, se quiser. — ela disse, calmamente. — Meu nome é Fallon. — se introduziu, pronta para acender um cigarro.

— Aquela que você matou… — Talena tentava não pensar na cena grotesca.

— Era um assimilador, vestindo a pele de sua mãe — Fallon explicou. — Infelizmente, sua mãe já se foi há muito tempo. — abriu a janela para soltar a fumaça do cigarro.

Talena não respondeu, mas seus olhos encheram-se com lágrimas amargas, aquilo era um pesadelo. Um pesadelo sem fim.

— Não posso revelar tudo ainda, mas trabalhava com seu pai, Lena. — Fallon disse, na tentativa de animá-la. — Ele foi um homem incrível… — suspirou.

— O que vai acontecer com a minha casa? Comigo? — Talena perguntou, abatida.

— Sua cidade já não existe mais, creio eu. — Fallon retrucou — Ouroboros já transformou tudo em cinzas. — revelou com indiferença.

Após a dura realização, Talena voltou ao seu estado silencioso até cair no sono. Ao acordar, estava em uma cama velha, o cheiro de sangue e ferrugem invadia seu olfato. Aparentemente estava segura, mas também poderia estar prestes a morrer.

Naquele quarto insalubre, a jovem começou a ouvir uma intensa discussão vindo do lado de fora, era Fallon, talvez discutindo com sua chefe. Talena levantou-se e encostou a cabeça na porta de metal enferrujado para ouvir melhor.

— Você sabe as regras, Fallon, sem testemunhas! — gritou uma voz feminina imponente.

— Ela pode ser treinada, como todas nós fomos… — Fallon tentava se explicar. — Eu mesma posso fazer o treinamento! — revelou.

— Que seja! Mas de hoje em diante você está banida dessa base, leve sua amiguinha com você! — a voz explicou, parecia estar fervendo de ódio. — Boa sorte em encontrar alguém de Ouroboros que aceite traidoras! — a voz riu e se afastou lentamente.

Assim, Fallon abriu a porta para que Talena pudesse sair.

— Vamos embora, Lena! — ela franziu a testa, frustrada.

Caminhando ao lado de Fallon, a jovem se assustava a cada passo dado, estava em uma base de operações imensa, haviam armas, computadores, e o mais curioso eram as pessoas, pois ali haviam apenas mulheres, todas vestidas de modo semelhante: roupas sociais pretas e um corte de cabelo curto, quase militar.

Apesar da curiosidade, não havia tempo para perguntas. Além do mais, alguém ali naquele lugar queria Talena morta, então o essencial era ir embora o quanto antes.

— E agora?! — Lena questionou ao sair da base, estava confusa e irritada com a luz do sol em seus olhos.

— Você será treinada! — Fallon retrucou. — Esqueça tudo sobre sua vida passada, sua família, sua infância. São apenas distrações agora. — lançou um olhar sério para Lena. — Hoje você se tornará uma sombra, um mero instrumento de Ouroboros. — Fallon fechou os olhos, como se estivesse aliviada e ao mesmo tempo, arrependida.

E assim, o treinamento de Talena se iniciava.

Talena

Por um lado, a jovem que passava noites em claro investigando crimes sem solução estava muito feliz de estar com Fallon, de descobrir segredos inimagináveis, mas por outro, o que ela tinha agora? Apenas dor, trauma, saudade e escuridão.

Os dias iniciais foram duros, pulando de motel barato a motel barato junto de Fallon, em busca de uma nova base para ficar. Ainda assim, Talena passava boa parte dos seus dias assistindo e estudando as fitas de iniciação de Ouroboros. De acordo com as fitas, Ouroboros existe desde 1940. Com bases escondidas ao redor do mundo, o Protocolo Ouroboros lida apenas com as piores coisas que a humanidade pode imaginar: Assimiladores, Mimicos, Chuvas Sussurrantes, e o pior dos males, as anomalias cósmicas e anciãs.

De acordo com as regras, se um membro testemunhar a aparição de um ancião, o membro deve se suicidar para preservar o “segredo”. Que segredo era esse? Lena questionava, bem, ela questionava muitas coisas, principalmente o motivo de estar ali respirando, viva, naquele quarto desagradável de motel.

Outra questão que lhe fazia ranger os dentes era sobre seu pai, ele era mesmo apenas um simples jornalista? Era mesmo quem dizia ser? Talvez sim, talvez não, talvez toda sua vida tenha sido uma farsa.

A cabeça de Lena fervia com dúvidas e ansiedade. Para sua sorte, Fallon havia voltado, e tinha notícias.

— Alaska! — ela piscou para Lena, que não entendeu nada. — Vamos para a base de Ouroboros no Alaska! — repetiu, dessa vez com um ar sério.

— Mas e o treinamento? — ela perguntou, mostrando a fita para Fallon.

— Será na prática a partir de agora, pois temos um wendigo pra caçar! — Fallon revelou, indiferente.

— Wendigo?! Tipo, o monstro folclórico? — Lena estava de queixo caído.

— Ele mesmo, agora, chega de papo e vamos, vai ser uma longa viagem até a base. — Fallon atirou sua mala no colo de Talena, que não tinha opção além de aceitar tudo aquilo.

Gostando ou não, aquela era sua vida agora, caçando monstros, matando coisas e vivendo em um estranho misto de empolgação e pavor.

“Pai. Mãe. Quero que saibam que sinto saudades de vocês. Eu não sei como as coisas serão daqui pra frente, mas eu estou com medo e ao mesmo tempo feliz. Feliz por estar viva, por ter memórias de vocês. Só peço que me perdoem pelas coisas que terei que fazer, não sou mais a garotinha estranha agora, eu sou uma agente das sombras… Ouroboros. Um monstro caçando outros monstros ainda piores. Bem, Adeus!”

Sobre o autor: Entusiasta da música e do cinema, em específico do terror, Jesse Nanakase lhes apresenta um universo perturbado com o Protocolo Ouroboros. Em sua mistura de gêneros, a história aborda temas como a solidão, a rejeição e o famoso medo do desconhecido. Se prepare para mergulhar de cabeça em um universo repleto de escuridão com o Protocolo Ouroboros.

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Apresentado pelo enigmático Amadeus Cripta, guardião dos segredos mais sombrios escondido nas profundezas de uma antiga catacumba, "Ecos & Silêncio - Volume 1" é uma coleção imperdível de contos macabros que promete arrepiar até as almas mais corajosas. Neste volume você encontrará Vozes do Submundo, O Jugo da Escuridão, Safra Perfeita e Ventos Passados. Sente-se, relaxe e desfrute da escuridão.

Vozes do Submundo: Um conto cheio de aventura e criaturas sinistras, onde o irmão mais velho embarca numa jornada desesperada para salvar o mais novo.

O Jugo da Escuridão: Um jovem promissor, recém-promovido, é surpreendido pela violência à porta de sua casa. Durante treze dias, as coisas irão piorar expressivamente, mergulhando-o num abismo de desespero e medo.

Safra Perfeita: As coisas não vão bem na fazenda dos Maldonado. A filha do fazendeiro, Elisa, tem revelações terríveis e observará mudanças bizarras na fazenda. Será uma oportunidade ou uma maldição?

Ventos do Passado: A história de Celina. Uma mulher na meia idade, ávida por livros de romance. Desejosa por um amor idealizado, ela o recebe de onde menos espera.

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Ano: 2024

ISBN: 9786501106076

Páginas: 92

Papel: Polen 80g

Formato: 14x21cm

Acabamento: Brochura

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